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REFLEXO - MODOS DE OFUSCAR OS OLHOS - IMORREDOURO

REFLEXO

Em um processo de religare, onde o corpo se relaciona com o simbólico/ritual este processo de criação fala de um corpo-multidão-sertanejo. A pesquisa atual do artista relaciona a figura catrumana: ser mitológico de 4 braços senhor do sertão. Este termo, catrumano, foi usado de forma pejorativa desde século XIX por pessoas de fora da região, quando em tom jocoso insinuavam que a situação pastoril do sertão poderia ser inferiorizada. Neste trabalho o corpo se desdobra em muitas sombras e olhares e a memória real se envereda pelo imaginário farsante, criando uma poética expandida lírica. No meu caso, como sou do sertão do Brasil, catrumano – gente que anda a cavalo, gente de quatro mãos - este trabalho é reflexo de uma dança que carrega gritos não ditos, palavras não registradas em busca de uma dança que tenha cor.

MODOS DE OFUSCAR OS OLHOS

Este trabalho é uma videocartografia e é coerente ao invés de colocar uma descrição do video, colocar o poema autoficcional motivador do processo. Na pesquisa artistica atual, o artista vasculha-se por meio de escritas de si autoficcionais que nascem antes ou durante o processo de criação dos trabalhos, portanto eles são os mapas que apontam a centralidade da cartografia de um corpo negro.
AQUIAGORA
Quero engravidar do silêncio,
passear com o aquiagora.
Quero que o aquiagora me enrabe
me coloque os ísquios em ordem,
me coloque um oco no arabesque.
Aquiagora me dá bombons e balões só pra me suspender.
- Me suspenda junto com o céu em um gozo de dança! Eu grito.


Aquiagora me pegou pelo meio, me forçou a enraizar os pés prá sustentá-lo.
Ele apoia-me no seu pau molhado,
e eu respiro num pretexto pro mover.
Entendendo que dançar é criar movimento pelos apoios dos espaços do corpo no espaço.


Aquiagora quer transitar, me colocar "ultimas danças" em todos os orifícios
apoia no chão, na parede, num colchonete.
Últimas danças sempre são importantes,
porque a gente nunca sabe que elas serão derradeiras.
As últimas danças são danças de orifícios, cavidade, duto, passagem estreita,
friccional, como todo nascimento.


Estas imagens e escritas criadas são uma forma de falar sobre o sertão geraizeiro desprendendo-o da noção de espaço longe de civilização, e colocando-o em uma borda de transformação do imaginário, num processo de acordos entre o criador-intérprete e o mundo. Estes acordos são para criarmos um novo futuro, onde vozes sejam ouvidas e corpos recolocados em protagonismos. estes acordos são propostas de aquilombamento, lugares onde certos corpos podem se expressar, ser e reinventar o mundo.

IMORREDOURO

Este trabalho é fruto de uma dança que f(r)icciona. F(r)iccionar é relacionar realidade e ficção, verdadeiro e falso na tentativa de se assemelhar a uma aparição. Assim, uma dança geo-localizada no sertão pode se redesenhar, fugir das várias caixas menores que a densidade corporal catrumana. Enquanto artista negro não retinto, quero volatizar minha densidade, não em favor de um jogo perverso colonizador, que me queria dócil, gentil e prestativo, mas para ser Catrumano, ser mitico com as quatro patas no sertão, sendo a proporção do brasil interior, assimétrico, longe das sombras dos que me gritam mulato.
Este trabalho que é um jogo de luz e sombra, aparição e desaparecimento, utiliza-se de uma poema provocador chamado 'Avivamento poético':


Enquanto geraizeiro no sertão, movimento em cinco atos:


Divinamento 1 - Deixe a viscosidade do corpo fazer caminhos translúcidos atrás de ti.
Divinamento 2 - Como encontrar a divinização do corpo- em- estado- de- matéria?
Divinamento 3 - Cruze redemoinhos com a sombra crescente- decrescente das coisas e choque este ovo no seu íntimo.
Divinamento 4 - Confunda dimensões e sentidos para criar uma memória-do-que-poderia- ter- sido.
Divinamento 5 - Tateie o indizível, escute os veios da terra.


Pela dança e poesia pretendo dizer-me cerrado.

Deiço Xavier é artista da dança que atualmente cursa licenciatura em Dança no Instituto Federal de Goiás - Campus Aparecida (IFG/ Aparecida) e Mestrado em Artes da Cena no PPGAC da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde sou bolsista FAPEG. Meus trabalhos atuais são resultado de uma cartografia onde me apoio no imaginário geraiseiro, criando imagens e solidificando-as em autoficciografias mitológicas. Este modo de dançar/escrever/performar pode (ou não) ilustrar uma possibilidade de sentir outros corpos dissidentes nestas videocartografias sentimentais. Elementos da memória e imaginação se misturam com histórias, desejos, vontades e pulsões de um coletivo sertanejo criando tensões entre o fato real e o falso.



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